A fobia (palavra do grego PHOBOS que significa temor, medo ou pânico) infantil pode ser considerada como uma condição normal, entretanto é necessário avaliar essa fronteira entre o que pode ser considerado normal e o que é uma fobia entendida como patológica.
Algumas classificações conhecidas, são encontradas na literatura psiquiátrica (DSM-V) como: agorofobia, fobias sociais, transtornos fóbicos ansiosos, fobias simples, entre outras. Em casos clínicos, também encontramos os chamados mecanismos defensivos que atuam, seja na criança ou em adultos, como forma de lidar com a fobia: evitação – fuga ou desvio da situação fóbica – e condutas de asseguramento: solicita ajuda de alguém para assegurar-se no seu enfrentamento ao objeto temido (Gurfinkel, 2001).
Mesmo com as classificações e estudos dos tipos de fobia, ter clareza sobre sua origem e dinâmica de funcionamento, desafia muitos profissionais na clínica, pois nem todas as fobias são desencadeadas por eventos de características traumáticas, visto que toda experiência vivenciada depende impreterivelmente dos sentimentos inconscientes relacionados a ela, como por exemplo, a angústia que toma conta do sujeito. Assim, podemos entender, a partir da Psicanálise, que a fobia se dá quando a angústia se materializou em medo de algo, sendo as manifestações fóbicas uma condição de defesa para lidar com tal angústia, frente ao objeto fóbico.
A Psicanálise há muito tempo vem se dedicando ao estudo das fobias em crianças, com algumas interpretações próprias a cada autor, porém fundamentadas nos escritos teóricos-clínicos formulados por Freud: Complexo de Édipo, Angústia de castração, Obsessões e fobias, fobias como neurose de angústia e posteriormente relacionado à histeria de angústia, entre outros estudos. Assim, a compreensão da fobia para a Psicanálise está fundamentalmente relacionada à angústia, às defesas contra a angústia e ao desamparo (Freud, 1926).
Freud também relacionou a fobia à organização da sexualidade infantil (Freud, 1905). E foi, principalmente no caso clínico “O pequeno Hans” que ele formulou a ideia da fobia como substituto simbólico para um conflito psíquico, onde o sujeito produz sintomas. Outro autor que trouxe contribuições importantes sobre a fobia infantil foi René Spitz (1979) também relacionando à angústia e laço mãe-bebê.
Na clínica, muitos pais buscam ajuda para seus filhos quando esses apresentam: terror noturno, pesadelos, medo ao dormir, medo do escuro, manifestações ansiosas e fantasias relacionadas a essas questões. Nessa fase das crianças, entre 02 a 04 anos, observamos com certa frequência as fobias de animais, fobias escolares, entre outras, sendo no caso a caso que buscamos, na clínica psicanalítica, analisar o que está se passando com cada criança em seu mundo mental, constituição da subjetividade e relacionamentos em ambientes familiares e escolar. A fobia em crianças também está relacionada com o processo de separação-individuação, processo esse essencial para a constituição psíquica da criança enquanto sujeito.
Como ressaltamos no início desse texto, o olhar atento precisa estar ao se perceber sinais de que a fobia na criança está se configurando numa patologia e, nessas situações, será necessário intervir (tratamento especializado), pois o sintoma fóbico estará causando danos à subjetividade, ao bem-estar da criança e à maturação psíquica, podendo evoluir para uma condição neurótica.
Esse tema é delicado e costuma trazer preocupações aos pais e professores e é nesse sentido que buscamos trazer alguns esclarecimentos à luz da Psicanálise.
Referências:
CHEMAMA, R. Dicionário de Psicanálise, 1ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
FREUD, S. (1895). Obsessões e fobias. Obras completas. v. III, Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, S. (1926) Inibições, sintomas e angústia. Obras Completas. v. XX. p. 95-204, Rio de Janeiro: Imago, 1976.
FREUD, S. (1905) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Obras completas, v. VII, Rio de Janeiro: Imago, 1905.
FREUD, S. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. Obras completas. v. X. Ri de Janeiro: Imago, (1909).
GURFINKEL, A. Fobia. 1°ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
SPITZ, R. A. O primeiro ano de vida. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1979.