Dia dos “tolos de abril” ou Dia da Mentira nos revela que mentira “não tem perna curta”, pois desde o século XVI tal prática se mantém como uma verdadeira tradição, mesmo em tempos de fake news todos os dias.
Essa prática de “brincadeiras” e “zombaria”, contando mentiras, no dia 1° de abril, espalhou-se pelo mundo, numa narrativa “de boca em boca”.
O interessante é que nessa história: mudança de calendário, na França, no século VXI, de 1° de abril para 1° de janeiro para comemorar o ano novo, evocou uma recusa de alguns em aceitar tal mudança. Desta forma, passaram a ser chamados de bobos de abril (Poisson d’Avril), segundo essa teoria que é uma das mais aceita sobre o assunto (alerto que há variações dessa narrativa).
Recusar ou negar a realidade (em Psicanálise) consiste numa forma de proteção da pessoa (mecanismo de defesa) contra algo que ela supõe que causará dor ou sofrimento. Então, não é coisa pra se zombar, pois trata-se de uma verdade do sujeito.
Diante de uma ameaça de desestruturação (psíquica) de si, um dos recursos do qual a mente se utiliza é o de recusa (denegação), descrito por Freud.
Poderíamos também chamar a atenção de que o autoengano no sentido de “mentir para si mesmo”, pode ser um modo da pessoa suportar o viver. Assim, recorrer a uma certa ilusão, como aspecto defensivo, segundo Freud, constitui-se numa condição para aguentar viver a realidade da vida, tal como ela é: nua e crua.
A mentira pode ser entendida também como um espaço criado de intimidade e privacidade do sujeito, pois ainda quando criança descobrimos que o outro: pais e demais adultos mentem, principalmente sobre aquilo que julgam que uma criança não vai entender. Assim, a criança descobre a mentira, bem como descobre que o outro não tem como saber sobre tudo que se passa com ela, ou seja, não tem bola de cristal e nem espelho revelador como nos contos de fada.
Mentiras para enganar o outro qualquer um inventa, mas não é disso que se trata quando nos auto enganamos. A mentira pode ser um fragmento da fantasia. A mentira faz parte da verdade.
Assim, observamos que depois dos estudos de Freud, a verdade nunca mais foi a mesma, pois ele demonstrou a ambiguidade e contradições presentes nas noções de verdade e mentira. Freud (1984) questionou o lugar da verdade para o sujeito, assim como o lugar da verdade numa análise.
Tal questão se amplia com Lacan (2003), quando diz que a verdade toda é impossível, pois como verbalizamos em alguns momentos: “Faltam palavras” e faltam mesmo, pois a linguagem (significante) não dá conta de abarcar o real. Nesse sentido que Lacan descreve que é pela mentira que se diz a verdade de si mesmo. Talvez, por isso que no dito popular escutamos: “toda brincadeira (até uma mentirinha) tem um fundo de verdade.
Desta forma, ao falar sobre mentira, evocamos a concepção de verdade, mas o que é verdade mesmo?