Escutar o que leva cada um ao consultório de psicanálise faz parte do trabalho do analista. Relações abusivas? Pessoas tóxicas? Mães narcisistas? Gaslight (manipulação)? Machismo? Racismo? Outras violências? Algumas expressões caem no gosto popular porque parecem explicar as dificuldades enfrentadas no amor, seja entre um casal, amigos ou na família. E o que não falta, na atualidade, são ofertas de tratamentos rápidos, com soluções pré-prontas que garantiriam a saúde mental a todos os integrantes de um determinado grupo: manuais, pílulas, siglas e dicas.
No entanto, as queixas de sofrimento psíquico só aumentam. Por quê? O que fica excluído desses tratamentos é aquilo que cada sujeito tem de mais singular. O modo como a sua história se escreveu – diferente de todas as outras. Imagine que falamos dos impactos da maternidade em uma mulher: as estrias são essas linhas que marcam a pele, embora não de todas. E, em cada corpo, deixam um desenho diferente. Essa metáfora diz algo do que está em jogo na análise, desde as relações amorosas aos processos de segregação: o traço único que um trauma, tenha sido de ordem pessoal ou social, deixou no seu corpo.
Num consultório, ao falar em livre associação, um analisante descobre que suas associações não são tão livres assim. O que se repete, então? Muitas vezes, a busca pelo tratamento acontece justo no momento que um modo de lidar com os outros, que até então se repetiu em sua história, já não satisfaz. A angústia vai ser a bússola para desbravar novos caminhos.