Todo filhote humano precisa de outro humano para se constituir como um sujeito, e é com esse outro que ele aprende peça por peça sobre si e sobre o mundo em geral.
No início da vida não é possível para um bebê ser independente ou ter vontade própria, por esse motivo ele se aliena (se converte em alguém que é estranho a si próprio) a esse outro que está mais próximo e lhe oferece o cuidado necessário para sobreviver. Na grande maioria das vezes é a mãe que fica encarregada desse cuidado, então através da alienação acontece a identificação com esse humano que teoricamente sabe tudo sobre ele, formando assim uma relação de dependência, que não é equivalente, pois somente o bebê corre o risco de morrer se não for amparado.
Podemos dizer então que a alienação é um processo necessário, mas não é sem o risco de uma fixação, onde o repertório das experiências, vivências, conflitos, frustrações e angústias da mãe podem ser confundidas com a história do filho.
No caso da filha mulher esse risco é ainda maior uma vez que a identificação sexual também está em jogo. Por esse motivo, apesar de tantas coisas em comum, mãe e filha terão que passar pelo processo de diferenciação uma da outra, pois são dois sujeitos com inúmeras possibilidades de escolhas que precisam ser marcadas pela diferença.
Quando o processo de separação/diferenciação não acontece da forma como é esperado, essa menina vai crescendo e se desenvolvendo como se sempre houvesse um duplo dela, o que a faz cair numa cilada narcísica de vivenciar os projetos e concepções maternas como suas.
Nesses casos a jornada da busca pelo seu eu em que todos devemos nos lançar fica muito mais difícil, e muito provavelmente será somente num processo de análise que essa jornada poderá acontecer de forma que os danos que toda separação provoca não sejam da ordem da devastação, mas sim de uma possibilidade de constituição de um sujeito mais dono de si.