Muitas pessoas quando iniciam um trabalho analítico ou psicológico ficam incertas quanto à validade do trabalho que se dá “apenas” no campo das palavras. Inclusive vocês já devem ter ouvido muito a frase: “Nossa! Vai lá só para falar e ainda paga? Fale comigo e eu nem vou te cobrar…”
Claro evidentemente que ninguém é obrigado a saber dos efeitos que as palavras produzem, especialmente os “leigos”, ou seja, os que não estão no universo “psi”. Mas é sabido desde Freud entre psicoterapeutas, psicólogos e psicanalistas que pelas palavras ditas no setting terapêutico e instituída a relação terapêutica, a palavra terá uma dimensão de “cura”, de elaboração e de retificação.
Freud nos ensina em seu texto de 1890 conhecido como Tratamento psíquico (ou anímico) que “Psyche” palavra grega que na tradução para o alemão aparece como alma é o cerne do tratamento psíquico ou da vida anímica ou ainda da alma, consiste justamente em afetar a alma por meio de palavras, palavras que por seu efeito e poder terapêutico podem eliminar perturbações somáticas e psíquicas.
Bom, para além do científico e dos estudos psi, podemos facilmente constatar os efeitos positivos e negativos das palavras no corpo, por exemplo, quando alguém que de algum modo nos é importante, seja um chefe, um amigo íntimo, um parceiro (a), um colega de escola, de profissão ou familiar, nos dirigem alguma palavra que marca o corpo, e que os efeitos podem perdurar por anos em nossa vida anímica. Nos deparamos com uma função quase mágica das palavras.
Pois se proferida de maneira dura, rude, irônica, cínica, causará efeitos que podem levar do mais penoso pensar, sentir, até o agir etc… Do mesmo modo quando algo doce, amigável, sincero, é dito e toca algo da nossa existência, de nossa alma, isso pode trazer vigor, alegria, amor, vontade de estar perto de alguém, desejo, soluções para o que não víamos saída, força para lutar por algo e assim por diante.
Bom, parece que os poucos parágrafos traçados até aqui, já podem de algum modo nos fazer refletir um pouco mais sobre essa “magia das palavras” e a forma como podem afetar o corpo e a alma.
Freud dizia nesse texto que citei, que uma análise consistia em devolver às palavras o seu poder mágico.
Mais tarde, um importante psicanalista francês chamado Jacques Lacan (1901-1981), conferiu a palavra um estatuto que segundo ele já estava em Freud, mas que ele pôde alargar os horizontes, levando o inconsciente a ser pensado nesse tempo de seu ensino, pela perspectiva da linguística, para tanto, ele proferiu uma emblemática frase dizendo que o inconsciente está estruturado como uma linguagem.
O processo analítico e a ética do desejo embora não possa garantir o que irá surgir numa análise, podem oferecer ao sujeito a possibilidade de reinvenção que ao mesmo tempo dá a esse sujeito a condição de retomar seu lugar de falante a partir de sua própria história, inventando um novo modo de ser e estar no mundo. Podendo se autorizar a escolher entre sucumbir ou não ao que se convencionou chamar de destino.