Uma das coisas que uma análise pode propiciar é o encontro com uma maneira diferente de amar. Aquela que nos provoca à tecitura do caminho por uma via ética e particular, também nos convoca a um aprendizado pelos arredores do amor. Aquele amor capaz de suportar o radical, ou, a raíz da diferença.
A possibilidade de recontar e recobrir, recortar e costurar e de expôr para recompor uma história, abre brechas para que novas cenas possam ali se inscrever. Com novas inscrições, se escreve também o roteiro de uma peça outra.
A análise nos implica a assunção de uma responsabilidade. Responsabilidade ética que urge do encontro com uma impossibilidade. Impossibilidade que esbarra no rochedo da castração. Encontro que constitui e pelo qual pagamos um preço Justo. Ou, um preço ajustado.
Encontro que pode fazer com que advenha talento, cri(a)tividade. Talvez criar seja a alternativa mais interessante diante daquilo que não há. Diante de uma impossibilidade última. Aprendemos a criar e criamos a partir de algo que já estava lá e que agora é possível lançar mão.
Criamos a partir dos restos de um processo que decanta. Restos que podem tecer uma caminhada outra. Criamos a partir de um traço percebido e apropriado no percurso. Criamos a partir de uma descoberta. Criamos como um respiro para seguir adiante. Criamos por alhures.
Alhures é o nome de um novo paraíso. Daquele Outro assumimos nossa própria ex-comunhão. O paraíso agora é em alhures. Em alhures a vida passa a desaguar numa aventura sem garantias. Podemos até ser amigos do rei, como poetisa Manoel Bandeira, mas, advertidos:
“Se um homem qualquer que se acredita rei é louco, não menos o é um rei que se acredita rei”
(Lacan em Escritos – “formulações sobre a causalidade psíquica”, pág. 171)
Em alhures, o rei é posto, pois, de antemão, sabemo-lo morto.