A primeira vista pode parecer estranho a proposta de um processo analítico que diz “Fale o que lhe vier à mente” e o que será que “Falar” pode auxiliar no tratar nossos sofrimentos e dores? Pela via da Psicanálise é esse o convite a quem busca um atendimento.
A medida que vai se construindo uma narrativa através do Falar, do dizer acompanhado por um Analista, que o instiga a falar, a se apresentar narrando sua história, pode-se aos poucos, no tempo e no passo de cada um, identificar não só o que lhe fizeram ou o que realizou, mas como o modo como se atuou em determinadas situações lhe marcou, como o outro com quem se relacionou o marcou. É no desdobrar das palavras que novas significações vão desalojando os sentidos vividos e escritos num Sujeito e seu discurso, crenças, dores e sintomas vão sendo reelaborados e reescritos sobre si e ao seu redor.
Constata-se que o desejo de saber não se produz naturalmente. E por que? Uma hipótese é que lhe é desconhecido esse lugar, é um estranho lugar que lhe habita. Falar disso leva a se pensar como cada um se posiciona e reconhece a sua implicação no que fala. Como diz o poeta Antônio Machado, “o caminho se faz ao caminhar”, e aí uma Análise pode despertar esse desejo de saber, de saber o que? Saber que é possível outra posição frente ao que se entende e vive, o que leva a se submeter alguns pensamentos, ações e sentimentos que o fazem sofrer.
Então “Curar” aqui nos indica uma direção para olharmos a posição que ocupamos na vida, dando voz, muitas vezes, a uma palavra calada ou emoção contida que pode afetar nosso corpo, a saúde e comportamentos, ou paralisar uma ação. É dessa posição que pode-se ir decifrando o que se deseja, que se pode, mais ativamente, dar uma nova significação ao que lhe causou sofrimento e poder surgir um novo jeito de lidar com o que lhe ocorre na Vida. Portanto, ser escutado no que lhe é mais legítimo e fala da singularidade de cada um.