Que termo mais intrigante esse, não é mesmo? Então, dias desses me deparei com um estudo que buscava circunscrever algo sobre o tema, essa palavra está em um dos livros da escritora e psicanalista Sílvia Amigo. O livro a que me refiro traz um capítulo chamado Notas sobre o Potlatch, que magnífico foi topar com esse capítulo, um tropeço daqueles que nos derruba, para que possamos levantar de um outro modo!
Ela cita um tal de Marcel Mauss, um antropólogo que produziu um belo trabalho em um de seus escritos no qual apresenta sua hipótese sobre o potlatch, fazendo preciosas extrações do conceito e mostrando a significação das trocas simbólicas entre as pessoas. Os dons trocados dizem de uma ética de convivência tão complexa que organiza o tecido em torno dos laços sociais, não se baseiam apenas em bens materiais, mas em cordialidade, festas, presentes, objetos. Tais trocas significam “matar a riqueza” e “alimentar o outro”.
Para a tribo, existem grandes obrigações que trazem brilho ao Nome próprio: o dar (livremente como um ato de fé, uma aposta), o receber (ser capaz de ganhar honrarias de outras tribos) e o devolver (ser capaz de prestigiar aqueles que lhe honraram). Em suma é uma espécie de aliança e comunhão, os bens nesse ritual são para circular e não para acumular. Se não cumprir uma das obrigações ocorre quebra no laço social, algo equivalente a uma declaração de guerra.
Exemplos cotidianos e atuais dessa quebra: quando não se convida alguém para uma festa, ou não participa da troca de presentes ou quando se tem dificuldades em receber algo do outro, não consegue ofertar ou está impedido de devolver boas coisas recebidas, há uma quebra na circulação de tais “bens”. A energia estagna, os aborígenes nessas tribos sabem que isso traz consequências, acreditam que algo de ruim decorre dessa impossibilidade de cumprir o potlatch.
Não pense você, que o que se entrega ao outro é algo sem importância, não, ao contrário, o que se dá é algo do “hau” (alma) – uma festa, um presente, uma gentileza a ser oferecida precisa portar algo do “hau”, uma cota importante daquele que dá, uma parte de si, uma parte que inclusive lhe falta e por isso é importante. O objeto ofertado precisa portar a capacidade de representar essa falta, daí decorre seu brilho.
O povo “aborígene” entende que só se tem mesmo, aquilo que se pode deixar ir, é deixar cair uma cota de gozo para ascender ao desejo. Participar das trocas é estar disposto a perder…
Mas pra que mesmo que tô contando toda essa história? Para te perguntar… o que você não tem conseguido deixar ir? Qual ou quais, das 3 valiosas modalidades de laço você não está podendo fazer circular: dar, receber, retribuir? A que ponto isso está paralisando sua vida psíquica? Que consequências você vem colhendo por estar com uma dessas capacidades impossibilitadas? Você tem conseguido dar o que tanto deseja receber? Como isso se inscreveu na sua história?
Deixo o convite para aqueles que desejam se perguntar e trabalhar sobre tais questões até o ponto de construir um saber fazer em nome próprio, recolocando sua energia vital numa circularidade!!