As doenças psicossomáticas são consideradas manifestações patológicas que se apresentam no corpo e que por sua vez, causam alterações das funções dos órgãos, como por exemplo: manifestações alérgicas, psoríase, vitiligo, retocolite úlcero-hemorrágica, alergias, alopecias, entre outras. O termo “psicossomático” tem origem grega e vem da junção de duas palavras: psique (alma) e soma (corpo)já nos indicando os caminhos do que se praticava na área médica na Grécia Antiga, sendo importante ressaltar que não havia essa divisão por áreas ou especialidades médicas e nem essa dualidade corpo-mente (tal distinção é feita por Platão, posteriormente). Portanto, o que havia era uma preocupação com os doentes e não com a doença e havia uma concepção sobre a interiorização das causas da doença, onde o homem poderia ser, de certa forma, responsável por sua doença. (Frias, 2004).
A partir do século XX, Groddeck (1866-1934) resgatou aspectos da medicina grega, desenvolvendo noções: da indistinção entre mente e corpo, simbolização (significado e valor simbólico da doença e dos sintomas), interpretação e importância dos primeiros anos de vida dos bebês e vínculo mãe-bebê na constituição do sujeito. Ele mantinha contato com Freud e Ferenczi, compartilhando ideias sobre seus estudos. Diferente dessa linha de pensamento, nos EUA, a compreensão da Psicossomática assume uma visão técnica, orgânica e puramente fisiológica, com foco na doença, nos sintomas e tratamento farmacológico (Santos & Martins, 2013). Groddeck, aproxima-se da Psicanálise, afirmando: “A Psicanálise não pode e não irá deter-se diante das enfermidades orgânicas. Ainda veremos até onde chegará o seu alcance” (Groddeck, 1992, p. 28).
A história sobre a Psicossomática é longa e instigante, mas o importante é fazer essa distinção entre a Medicina Psicossomática e a Psicossomática Psicanalítica. Para a Psicanálise a própria noção de corpo já se diferencia das concepções biológicas, assumindo que o corpo depende da estrutura de linguagem e se dá por uma organização das pulsões, ou seja, trata-se da representação da pulsão no inconsciente. Para a Psicanálise Lacaniana a doença psicossomática é fenômeno clínico enigmático e assume características de alternância entre presença e ausência das manifestações de lesões no corpo ou nos órgãos, sendo nessa perspectiva que estuda as afecções, como se algo fosse escrito no corpo, porém de difícil compreensão. Por isso, faz-se necessário, numa análise percorrer os caminhos pelos quais o inconsciente se manifesta.
Referências:
Dal-Cól, D. M. L.; Poli, M. C. Fenômenos psicossomáticos: uma questão para a psicanálise. Revista aSEPHallus de Orientação Lacaniana. Rio de Janeiro, 11(22), 122-140, mai/out, 2016.
Frias, I. Doença do corpo, doença da alma: medicina e filosofia na Grécia clássica. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004.
Groddeck, G. Condicionamento psíquico e o tratamento das moléstias orgânicas pela psicanálise. In G. Groddeck. Estudos Psicanalíticos sobre psicossomática. São Paulo: Perspectiva, 1992.
Santos, L. N., Martins, A. A originalidade da obra de Georg Groddeck e algumas de suas contribuições para o campo da saúde. Interface – comunicação saúde e educação, 17(44), 9-21, 2014.