Nos últimos anos, palavras como “dependência emocional”, ganharam popularidade, mas também sofreram distorções de seu significado original.
É comum ouvir discursos que exaltam a autossuficiência, pregando que “não precisamos de ninguém para sermos felizes”. Porém, por trás dessas frases, muitas vezes se escondem pessoas machucadas e confusas, tentando lidar com a solidão.
Esse ideal de independência absoluta ignora a essência relacional do ser humano. Freud já nos mostrou que somos constituídos no encontro com o outro. Winnicott, por sua vez, destacou que o olhar do cuidador é fundamental para que o bebê se sinta real, existente. Assim, a dificuldade de romper com relações marcadas pela violência, por exemplo, revela não apenas uma fragilidade, mas a necessidade de ter um olhar que sustenta e dá sentido.
Nas festas de fim de ano, momentos tradicionalmente marcados pelo encontro, a solidão pode emergir de forma ainda mais dolorosa. O lugar vazio à mesa, o celular que não toca, a sensação de estar deslocado, o silêncio que ocupa o espaço. Muitos se perguntam: “Por que comigo?”, por se sentirem vítimas de uma injustiça.
Mas cada família tem uma história. Seus pais já foram filhos, assim como seus avós e bisavós. Quanta coisa aconteceu entre gerações? Quantas ausências foram herdadas inconscientemente, quantas repetições se perpetuam? A solidão que se manifesta nesses períodos pode ser uma oportunidade de olhar para a história que te trouxe até aqui.
A terapia oferece um espaço único para isso: um lugar onde você pode falar de sua solidão e questionar os padrões que moldaram sua relação consigo mesmo e com os outros.
Por Joice Ponce