O filme ” A Baleia” é um soco no estômago! Qualquer tentativa de análise parece rasa e pouca diante de tantas e tão profundas questões que aparecem.
Sensível, o filme trata não só a obesidade do personagem central Charlie e a crueza de sua realidade mas aborda, quase que sutilmente, outros temas muito relevantes. O protagonista após perder seu companheiro e viver a dor do luto, perde o controle de seu peso e desencadeia uma compulsão alimentar que o leva a uma vida totalmente limitada devido a sua obesidade mórbida onde precisa de ajuda até para as tarefas mais simples. Sua cunhada, irmã de seu falecido amor, realiza essa tarefa porém de maneira limitada já que diante da postura de Charlie há pouco o que fazer além de auxiliá-lo no que for possível, nesse ponto o filme retrata claramente como para ajudar alguém só podemos ir até certo ponto, não se pode forçar uma cura ou doutrinar um caminho se essa pessoa em sofrimento não decidir agir a favor de si e aceitar ajuda. Por nossa posição de sujeito somos sempre responsáveis, disse Lacan.
Charlie e Alan escolhem vias diferentes para um mesmo fim, o de um suicídio lento. Em um caso Alan não quer se alimentar, para de comer e perde muito peso, enquanto Charlie decide só se alimentar e ganha muito peso, ambos não vêem mais sentido em viver.
Além disso o filme retrata a repressão por parte da igreja em relação aos homossexuais e de que forma a não aceitação por parte da comunidade e da família pode levar a conflitos internos tão intensos que tornam viver uma tarefa difícil de suportar, uma ambivalência entre querer pertencer, ter sua crença (para além de identidade sexual) e a dor de ser marginalizado por conta disso.
No filme é possível sentir a aura da raiva em todos os momentos, nas crises de compulsão alimentar onde Charlie vira-se contra si mesmo e come sem limites, nas atitudes de sua filha adolescente, que sente-se abandonada e age de forma por vezes violenta e agressiva, em sua cunhada que tenta ajudá-lo e se vê impotente diante da situação.
Por baixo da raiva existem tantas outras camadas de sentimento, é preciso simbolizar a vida, a realidade por vezes é difícil de engolir e poder falar e digeri-la torna esse caminho menos pesado.
Enfim, as nuances e sensibilidade do filme reforçam a delicadeza e um tanto da profundidade da vida, que certamente foge as palavras.