Na clínica temos atendido muitas pessoas que passaram ou estão passando por um processo de perda de entes queridos devido complicações da Covid-19. Alguns lidam com a perda do pai e no momento em que temos uma data comemorativa do Dia dos Pais, essa dor pode se agudizar, trazendo uma nostalgia, ou desencadeando sintomas somáticos.
Vivemos, em muitos momentos, perdas que não podemos evitar e com isso entramos num processo de luto. Esse luto pode ser elaborado, porém não exatamente concluído, uma vez que todas as nossas perdas entram no que chamamos em Psicanálise de uma cadeia de lutos, revivendo e reelaborando lutos anteriores e ressignificando essas perdas. Entretanto quando esse processo é mais difícil, algumas pessoas entram em melancolia, necessitando, por vezes de tratamento especializado para tal.
Na frase: “Perdi meu pai pra COVID-19 e encontrei um caminho para lidar com meu luto”, percebemos como é possível dar um lugar para cada dor, para cada coisa ou pessoa, assumindo um novo lugar para si próprio. Dar um lugar é significar (ou ressignificar ou re-elaborar), simbolizar, pois a vida humana é constituída de simbólico do começo ao fim. Em Lacan (Lacan, 1991) encontramos o conceito de que a morte pertence ao real, sendo portanto incognoscível, ou seja, não se pode compreender ou conhecer tudo, mas é possível encontrar caminhos, principalmente através dos elementos de cada cultura para simbolizar. O caminho é singular, onde cada sujeito, no seu tempo, vai percorrendo os tempos lógicos (descritos por Lacan) desse processo: momento de ver (entrar em contato com a perda), momento de compreender e momento de concluir.
Assim, é preciso ressignificar a vida diante das mortes, assumindo novo lugar para si mesmo, ou seja, frente às perdas apresenta-se o nascimento para uma nova condição, uma nova abertura, mesmo que vivenciando a dor.
Se você não está conseguindo elaborar um luto, conte com a nossa escuta.