Muito se fala dos 40 dias de resguardo da mulher após o nascimento do bebê, sendo descrito, normalmente, como consequência da rápida mudança hormonal que vem em decorrência do parto. No entanto, o puerpério não dura somente 40 dias e não tem a ver apenas com as mudanças hormonais.
O puerpério é uma fase da maternidade que pode durar cerca de 2 anos – especialmente se tratando do primeiro filho – que diz respeito a uma série de mudanças corporais, sociais e psíquicas.
Psiquicamente falando, há no cerne dessa transformação uma mudança fundamental – a mudança do lugar ocupado pela mulher – ela deixa de ser apenas filha para se tomar mãe. Ou seja, ela deixa de ser a pessoa cuidada e amparada, para ser aquela que cuida e ampara, de cuja presença depende a sobrevivência e o desenvolvimento de um ser humano.
Esse fato pode ser pouca coisa a olhos e ouvidos desatentos e desavisados, mas é uma transformação drástica e radical na vida de uma mulher, de onde emergem importantes lutos a serem feitos. Muitas questões mais conscientes e outras tantas ainda bastante inconscientes podem vir à tona nesse período, podendo trazer sofrimento psíquico e, em alguns casos – a depender das particularidades de cada mulher – algumas psicopatologias (como por exemplo, a depressão pós-parto).
O puerpério é um tempo de mudanças, de ganhos e perdas e, com uma boa condução, com lutos bem-feitos, elaborações bem trabalhadas, pode também ser tempo de cura.
Ter um filho pode ser um evento tsunâmico, mas, da mesma forma, pode ser para mãe, uma chance de retificação da própria história.