Algumas questões se impõem à clínica que se apresenta em face de um sofrimento sociopolítico. Considerada por alguns autores como a clínica dos excluídos, ela traz como pano de fundo, além da fantasia edipiana constitutiva de todos nós, sujeitos alienados aos significantes de alguns Outros, a pregnância imaginária advinda de uma precariedade simbólica contextualmente presentificada. É perceptível a ausência de elementos que venham compor as narrativas do sujeito. Esta ausência se alinha ao lugar onde ele se vê impossibilitado de ocupar na cena do mundo. Há uma invisibilidade declarada. Invisibilidade que se faz excludente por uma dupla vertente: tanto a despeito do fantasma primordial, quanto a despeito do cenário sociopolítico e cultural vigente.
Ainda, a identificação ao objeto enquanto dejeto e por conseguinte, a identificação aos que se percebem fora dos padrões socialmente constitutivos da subjetividade.
A suposição de que se ocupa diante destas duas cenas um lugar de estrangeiro é determinante para o reconhecimento e a condição de pertencimento. A aposta em um processo analítico, vem como possibilidade de um deslocamento libidinal a uma posição simbolicamente adversa. Adversa a historicidade de toda uma ascendência.
A alienação a um contexto por si excludente, é proporcional, se assim posso dizer, à fantasia do estrangeirismo na cena do mundo.
Portanto, uma clínica implicada na delicadeza das variáveis que a compõem. Nesta composição, cabe ressaltar, o engodo do psicanalista em se deixar cair numa prática assistencialista, contrapondo-se a aposta da psicanálise em direção à ética do desejo.
Deslocar o circuito repetitivo de gozo é romper com o ponto onde o sujeito encontra-se fixado. Assim, uma clínica repleta de desafios. E proporcionalmente, de uma enorme riqueza.