A importância de falar sobre o suicídio se dá se o foco for falar da vida!

O que então teria o tema tão duro a ver com a vida se ele fala da interrupção da própria vida?

Porque o suicídio deve ser considerado como uma forma que o sujeito que tenta ou comete o ato, comunica como ele entende que a vida dele se tornou algo insuportável para ele. Ou seja, morrer não é o problema, viver é um problema para quem tenta pôr fim a vida.

Assim, a importância de falar sobre o suicídio tem o valor educativo e de acolhimento das agruras da vida. Isto pode começar a ser introduzido principalmente na adolescência, por exemplo, fase de muita ambiguidade de sentimentos, na qual o adolescente começa a falar do que não gosta, do seu tédio, das suas angústias. É uma fase do desenvolvimento psicológico em que se começa a ter as próprias ideias e a confrontá-las com o mundo. Por isto, é uma fase conhecida como de ebulição e “aborrecente” (do típico aborrecido, injuriado). Nela, o adolescente dá pistas de que a vida dói, frustra e que viver nem sempre traz felicidade o tempo todo.

É um momento mais fecundo de introduzir a forma do adolescente  começar a pensar nos recursos que tem, e o que precisa desenvolver para enfrentar a condição de estar vivo e lidar com frustração, aprender a se acalmar, aguardar para realizar impulsos, aguentar não realizar e saber que “não mata uma desilusão”, porque nem tudo que queremos é viável ou factível. Nem na adolescência e nem na vida adulta. Que o ideal é do imaginário, da fantasia, da ideia. O ideal é importante, nos baliza, mas não tem compromisso com a realidade, e sim com o princípio do prazer, no qual tudo pode, tudo é mágico. Este é o mundo infantil que deve ser superado aos poucos, para esta passagem progressiva à vida adulta.

Aliás, gosto muito da palavra adolescer que vem desta fase da adolescência, porque a uso para dizer que todas as vezes, mesmo que adultos, nós estamos elaborando alguma coisa, estamos numa fase de transição, estamos adolescendo, amadurecendo nossas ideias, nosso imaginário está em transição e acolhendo a realidade. Ou seja, saber o que é possível e viável. E isto é típico do viver! E é exatamente isto que o ato suicida mostra que encontrou um curto circuito: a não suportabilidade de aguardar passar a tristeza, as frustrações, a dor do existir e encontrar e desenvolver saídas. O ato suicida consumado ou intenção é uma tentativa de pôr um fim a um sofrimento que parece não ter fim, ou não tem um lugar para ser colocado. Parece não haver respiro para quem se sente tão triste, a ponto de desenvolver uma depressão tão profunda e progressiva e consumar o ato.

A Importância de Falar Sobre o Suicídio é justamente a aposta na vida, é saber que antes de pôr um fim, é poder falar do começo (do que é típico do viver: a frustração) e que é muito diferente querer morrer do que SUMIR por um tempo. Conheço muita gente e muitos pacientes que quando intervi, neste sentido, afirmaram que queriam sumir, dormir muito, acordar e tudo estar resolvido…. Tenho certeza que estas pessoas não queriam morrer! E elas estão vivas!

Só para frisar: na adolescência é quando começamos a estabelecer nossa identidade. Mas, nossas escolhas e jeito de ser e viver ocorrerão ao longo da vida pré-adulta, adulta e também na fase de idosos. Não nos esquecendo, que o suicídio em idosos vem crescendo e acentua a falta de apoio social que muitos sentem na cultura que vivemos. Seja porque muitos envelhecem sem recursos socioeconômicos, seja porque não viveram como queriam e agora esta fase de vida fica mais difícil. Enfim, muita coisa para se pensar. É o significado que a vida tem para cada um, que o ato suicida tenta interpretar: assim, eu não quero viver! Então, antes de pôr fim a vida, poder repensar angústias e caminhos do viver, é o mais prudente. Falar, desfaz a necessidade do ato. Daí o título deste texto.

Por Ana Cláudia Merchan Giaxa

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