Hoje em dia muito se fala sobre saúde mental, mas como anda a saúde mental dos profissionais da saúde?
Vivemos num tempo do discurso de produtividade, numa espécie de apelo: “Cuide-se, para produzir melhor”. Essa questão de produção se expressa em cada profissão de maneiras diferentes, mas nas áreas da saúde, ao meu ver, cria-se uma pressão na produção das palavras “cuidado” e “cura”. Como se produz cuidado? Como se produz cura? Essa necessidade de produzir “cuidado” e “cura” vem com um peso muito forte para esses profissionais, um dever de curar e de cuidar. Não existe espaço para o mal-estar, para não estar bem. Muito comumente, profissionais da saúde podem ser questionados por outras pessoas “como você pode estar doente? Como você pode estar mal? Você deveria saber como se cuidar”, pois como trabalham na saúde, deveriam estar sempre 100%.
Mas é possível esse bem-estar 100% do tempo?
Outro aspecto que atravessa essa questão é o próprio trabalho, marcado por muitas expectativas, extensas e exaustivas jornadas de trabalho onde a remuneração normalmente é muito baixa. Não é raro ver clínicas explorarem seus funcionários, pagando em torno de R$10,00 por atendimento (ou até menos!). Trabalhar então se torna uma questão de quantos atendimentos são possíveis fazer no menor tempo possível, para poder finalmente pagar um dos boletos no final do mês. Não é surpresa que sentimentos de cansaço, apatia, ansiedade sejam muito presentes. Bem como dificuldade para dormir, realizar atividades cotidianas e manter interações sociais, é comum escutar que pessoas que trabalham na área da saúde não conseguem arrumar tempo para a família, amigos e relacionamentos amorosos. Essas pessoas podem acabar sendo diagnosticadas com depressão, Burnout, estresse, ansiedade, podendo até mesmo acabar por abusar de medicamentos para se manter no trabalho. Quando o nome do “jogo” é a produtividade, o profissional da saúde acaba pagando com seu próprio corpo.
Assim, em minha perspectiva, falar sobre os cuidados com os profissionais da saúde é poder falar sobre o ambiente em que trabalham, sobre suas relações sociais e também poder antes de tudo tratar a palavra “cura”, para assim cuidar do peso que ela carrega, de sua história, como o propósito então de poder contar a histórias de cada uma dessas pessoas (em suas singularidades) que decidiram adentrar o campo da saúde.
Legenda:
Hoje em dia muito se fala sobre saúde mental, mas como anda a saúde mental dos profissionais da saúde?
É comum escutar que pessoas que trabalham na área da saúde não conseguem arrumar tempo para a família, amigos e relacionamentos amorosos. Essas pessoas podem acabar sendo diagnosticadas com depressão, Burnout, estresse, ansiedade, podendo até mesmo acabar por abusar de medicamentos para se manter no trabalho.