O escrito freudiano nomeado como o Mal-Estar na civilização datado de 1930, nos atualiza em vários conceitos psicanalíticos que dizem do mal-estar, entre eles a culpa, a angustia, agressividade, desamparo, o medo. Pois o mal-estar que é estabelecido por se estar no processo civilizatório acompanha o sujeito humano, pois a civilização enquanto que um processo em acontecimento necessário para a humanidade, é caracterizada, pelo mal-estar. Então, poder-se-ia perguntar como essa experiência da pandemia é congruente para pensar o mal-estar, a partir do legado freudiano?
Para Freud a vida do homem seria obter felicidade, enquanto que investimento nos objetos, e a finalidade seria obtenção de prazer e evitar o desprazer ou sofrimento. Somos regidos pelo princípio do prazer e que pela influência do mundo externo se transforma no princípio de realidade, impondo-se um limite ao prazer, e afetando o homem assim de três formas: pelas tragédias da natureza, como exemplos, terremotos e catástrofes; pelo sofrimento do corpo, como a dor; e pela influência do mundo externo diante da relação entre os próprios homens, pois lidar com o seu semelhante seria como o mais penoso assinalado pelo autor.
Nossas vidas foram mudadas e fomos convocados a nos isolar socialmente para podermos dar conta do risco da pandemia, que nos atinge pela incerteza e o real da morte. Somos afetados psiquicamente, pois o medo e angústia, o pânico, o luto, diante desse acontecimento da pandemia nos devastam em tal condição civilizatória. Experimentamos a nossa fragilidade em ter que lidar de uma só vez com o mal estar, e da própria ciência, que poderia trazer alguma resposta, mas que também não dá conta.
No entanto, uma via possível para darmos conta dessa experiência em que vivemos seria a elaboração através do tratamento psicanalítico. Pois através da fala e a escuta, o sujeito pode encontrar um lugar de reconhecimento de seu desejo. Falar daquilo que lhe acomete em análise, ainda é um caminho para poder dar conta do seu sofrimento.