Pode ser que em algum momento breve nós tenhamos a sensação de viver algo novo e que ao mesmo tempo é muito conhecido. Esse sentimento de que algo que não é estranho desperta nossa curiosidade, as vezes pode fazer com que nós nos perguntemos de onde isso partiu? Tempo. E já que falamos de tempo, conforme percorremos ele, descobrimos ou redescobrimos algo no percurso.
E nessa época do ano, quando vamos de encontro ao fim dele, esse espaço em que nos perguntamos a respeito das voltas e curvas que a vida deu durante o ano, podemos nos deparar novamente com isso que parecia ser muito novo, mas ainda está aqui, com outras aparências.
A época do ano (de)novo pode abrir caminho para olharmos para nosso percurso, que é repleto de tantas experiências vividas por nós, que a separação do que “foi” e o que “irá ser” parece impossível. Parece entediante pensar que repete-se algo que vivemos várias vezes, mas ao mesmo tempo isso revela a grande verdade de que não é possível fugirmos de nós mesmos.
Não é possível fugir ou evitar aquilo que nos atravessa e nos aponta que algo esteja fazendo falta, ainda que esse algo pareça nunca ter sido encontrado. Por isso que quando repetimos e repetimos e repetimos, nós nos deparamos com aquilo em nós que nos devolve a notícia de um passado-presente. Talvez seja por isso que experimentamos alguns obstáculos em nossa própria liberdade, porque desconhecemos a quê eles nos servem.
Por isso que, quando escolhemos ir avante sobre nós mesmos por uma análise, cometemos pequenos equívocos, mudamos de ideias ou reafirmamos pensamentos. Ou qualquer coisa que parta de escutar o quanto descobrimos a nossa criatividade em relação a nós mesmos.
A análise pode ser o espaço em que conseguimos entender, as vezes pela primeira vez, porque a nossa repetição e a forma que repetimos nos é tão importante. E também entender como pode ser que não seja mais essa forma que a gente quer seguir ou que seja esse o caminho. A análise mostra essa situação: que nós podemos escolher o que fazemos com nós mesmos.
Isso pode ser angustiante, mas pode ser libertador. Afinal, estamos olhando para algo que nós participamos, em nossas medidas, na criação. E justamente pela nossa participação na criação de nossas narrativas que pode ser possível elaborar as nossas questões, e entender nossas fantasias ao ponto de olhar para nossos enigmas de maneiras diferentes. Porque no fim das contas, nós retornamos a repetir nós mesmos, e é justamente aonde podemos mexer no que conhecemos e ver aonde estamos ausentes, eu sei aonde eu estou, mas pode ser interessante saber aonde não estou – vai que eu to lá também?
Por Júlio Tozo – Psi Social