No início da vida o bebê não se percebe como uma unidade diferente e separada dos demais objetos. Para que ele se constitua num si-mesmo unitário deve passar por uma tarefa de integração no espaço e no tempo, uma de personalização em que a psique se apropria do corpo, formando uma unidade psicossomática, e outra de relacionamento com objetos em que se inicia o contato com a realidade externa. Essas tarefas se iniciam no estágio de dependência absoluta do bebê e são levadas por toda a vida. A integração é uma conquista do indivíduo que só pode ser alcançada a partir de um ambiente que garanta os cuidados do recém-nascido.

Para atingir a integração o bebê tem a necessidade de manter estados de ser que Winnicott chama de continuar-a-ser. Esta é uma necessidade que temos até a morte. Para que o bebê continue sendo o ambiente deve ser estável e previsível, de tal modo que a criança sabe o que esperar do seu ambiente e não é pega de surpresa. De acordo com a psicóloga Elsa Dias: “Desde o absoluto início, a necessidade fundamental do ser humano consiste em ser e em continuar a ser” (DIAS, 2017, p.78). Caso o ambiente não seja suficientemente bom e não consiga se adaptar às necessidades do bebê, este terá que responder às exigências externas e, portanto, interromper o seu processo de continuidade de ser para reagir às intrusões que o atingem. Quando o bebê precisa reagir à intrusão ambiental, ele tem sua continuidade de ser interrompida, ou seja, deixa de ser, e experimenta então a manifestação das agonias impensáveis ou perda da identidade. Em outras palavras, o bebê deixa de ser para reagir a fatores invasivos, que não vêm de uma necessidade interna.

Contudo, na experiência primária de integração o bebê torna-se os cuidados que recebe. Ele se identifica e incorpora esses cuidados que, quando são suficientemente bons, o ajuda a ter autonomia e depender cada vez menos da mãe ou de quem cuida dele. É o acúmulo dessas experiências, com uma repetição regular, que o ajuda a ter independência desses cuidados ambientais e a confiar no ambiente. Vale lembrar que essa independência nunca se torna absoluta, pois nunca nos tornamos completamente independentes do ambiente, mas é possível atingir um ponto em que o indivíduo adquire a capacidade de se relacionar no mundo, de maneira confiante, criativa e autônoma, e se enriquecer com essas experiências.

Por Vitor Campos Resende

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