Ah, o tempo! Algo tão precioso e planejado por todos, alguns entendem seu valor muito cedo, outros mais tarde, obviamente, já que o tempo é algo tão singular, é o tempo de cada um.
Vivemos correndo, como se diz:
” correndo contra o tempo “, na direção oposta – o tempo se está faltando ou sobrando, ambos gerando as mais diversas angústias, quando sobra tempo para quem nunca o tem, ou quando falta tempo para quem sempre o teve de sobra. Diante de tantas facilidades que se cria e que se dispõe para fazermos uso, o objetivo central do tempo foi deixado para trás, a grande maioria ultrapassou a linha cruzando ao excesso, ao vício, ao exagero e é desse lugar, talvez, que se inicie essa corrida contrária.
Nunca a questão tempo / sujeito / mundo moderno entrou em tanto conflito quanto agora. Cada semana recebemos uma nova notícia, um novo método tecnológico para se encurtar o tempo de resolver (e fantasiosamente sentir) tudo, seja para se comunicar – pagar – comprar – sorrir – olhar – chorar – orar – amar – odiar – demonstrar – opinar – apreciar; o que for! O foco é encurtar tudo que é possível (e se fazer possível o que ainda é impossível) para poder sobrar o tempo de viver. Mas o viver é o que, se não justamente isso tudo que já foi encurtado?
Daí podemos pensar de que o sintoma que se faz presente em cada um, primeiramente se construiu como um sintoma social, onde após seus infinitos desdobramentos refletiu em nós, de forma única em cada um, indivíduos da contemporaneidade, como perfeitamente explica Maria Rita Kehl em seu livro: ” O tempo e o cão “.
Todo esse encurtamento nos induz a padrões, sufoca nossa criatividade e nossa capacidade de inventar, de produzir, de fazer o que se consegue com o que se tem, sufoca nossa habilidade de criar atalhos, de desenvolver o “jogo de cintura” para ser autor de sua própria vida, de seu próprio viver – um a um.
Já cantava o poeta Caetano:
” Tempo, tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos “
Como é hoje o tempo para você?