De forma geral, considera-se que o puerpério ocorre do nascimento até os 45 dias de vida do bebê, período em que a mulher faz a homeostase retornando ao estado pré-gravídico. Porém, ao tratar-se de saúde mental, considera-se que o puerpério ocorre do nascimento até os dois anos de idade, período o qual ocorre as adaptações que a mulher sofre com a chegada do bebê. As mudanças comportamentais são diferentes das físicas, ou seja, a mulher não retorna ao seu estado psíquico pré-gravídico. As responsabilidades adquiridas mudam, então, os comportamentos também mudam, ou seja, adquire-se um novo funcionamento psíquico. Sendo assim, a mulher terá que se adaptar ao bebê e às demandas que a maternidade dispõe, a adaptação pode ocorrer de forma saudável ou não.
O puerpério é um período potencial de crise, justamente por ser um período de adaptação. Durante todo o seu processo de vida e de gestação, a mulher foi dando características físicas, psíquicas e comportamentais para o seu bebê imaginário, e após o nascimento, ela deverá conhecer o seu bebê real. Então, desde o nascimento a mãe deverá lidar com o bebê, que pode ou não atender às características de seu bebê imaginário, que em geral, não condizem com as características reais, o que pode ser algo bastante frustrante para ela.
O baby blues é uma disforia puerperal, pois a mulher irá passar por uma labilidade emocional logo após três dias que sai do hospital e vai para a sua casa, esse momento não é reconhecido como um transtorno psiquiátrico em que precise necessariamente de medicação ou psicoterapia. Cerca de 85% das mulheres no pós-parto passam pelo baby blues, dessa forma, entende-se como algo esperado e normal desse período.
Neste período, a mulher passa por privação de sono além da adaptação com o bebê em casa, e isso, por vezes, decorre irritabilidade, choro excessivo, entre outros comportamentos. Além de ser um período em que a mulher está bastante sensível, ocorre de a sociedade querer conhecer o bebê e ter, muitas vezes, visitas excessivas, a rede de apoio em sua casa, e tudo isso muitas vezes acaba sendo um estressor também. Outro ponto importante é a ‘’mãe invisível’’ pois todos só querem saber do bebê e ninguém olha para a mãe. A demanda que o bebê traz faz com que a mulher muitas vezes fique sem tempo para cuidar de si mesma, o que acaba afetando diretamente sua autoestima.
Dessa forma, é um período altamente estressor em que a mulher irá enfrentar de forma adaptativa, com a sua labilidade emocional. Pode ocorrer de a mulher ficar ora super feliz com o seu bebê e ora super triste e irritada. A mãe entra em um estado de simbiose com o seu bebê, para pensar e agir como uma extensão de seu corpo, o que acaba demandando bastante. Tudo isso é estressor e característico desse momento de adaptação, chamado baby blues, que dura no máximo 45 dias, e que não deve ser confundido com depressão pós-parto.
A depressão pós parto se inicia após o parto, porém, para a maioria das mulheres, há sintomas desde a gestação e só continua após o parto. Os critérios de avaliação e identificação da depressão, são os mesmos para qualquer outro momento da vida, sendo o único fator de diferenciação, o parto. Em geral, a depressão pós parto é quando aquela pessoa que estava apresentando baby blues, não parou de apresentar a labilidade emocional depois de passado 45 dias, ocorrendo um agravamento. Na depressão pós parto é necessário que a mulher seja encaminhada para um(a) psicanalista ou psicólogo e também psiquiatra. Há pesquisas que mostram que a depressão pós-parto pode ter consequências graves na vinculação e no desenvolvimento do bebê.