Nesse tempo que nos requer isolamento social, muitas são as incertezas diante das diferentes informações, e experiências de não-saber dessa nova (e esperamos que passageira) realidade. É possível que por conta disso, o medo e a angústia relacionada ao desamparo, sejam despertados nos sujeitos em quarentena. O primeiro poderá ser pensado enquanto medo do desconhecido daquilo que se manifesta (LACAN, 1962-1963). E a angústia uma reação ao perigo (FREUD, 1926-1929). Isto é, dois afetos típicos do ser humano, frente situações causadoras de sofrimento psíquico.
As ameaças de sofrimento são de três direções: das forças da natureza, da fragilidade de nossos próprios corpos e da inadequação às regras, as quais buscam ajustar o comportamento humano em sociedade (FREUD, 1930-1936).
Nosso imaginário, que na desatenção do dia-a-dia faz pensar que somos inabaláveis, se apresenta como furado em conjuntura tal qual estamos vivendo. Porém, reconhecer esse(s) furo(s) como característica neurótica, poderá abrir caminhos para o novo. Mas, como prosseguir? Como dormir e acordar ainda apostando em si mesmo, perante um cenário tão incerto?
Partindo daí, surge a possibilidade de se reinventar. É em face do desconhecido que podemos criar. Assim, um trabalho de análise possibilita a investigação do inconsciente, que se manifesta de modo singular em cada sujeito. E com isso, o que se descobre são sutilezas (ANA SUY, 2019).