O Autismo em crianças pequenas
Refletindo sobre os desafios que enfrentamos na clínica psicanalítica eu diria que o autismo em crianças pequenas é um dos maiores, tendo em vista as dificuldades de comunicação e de interação que elas apresentam.
Recebemos na clínica muitas demandas por parte das famílias e das escolas, que se queixam do comportamento isolado da criança em casa ou em sala de aula, da dificuldade de se comunicar com seu filho ou seu aluno, da extrema dificuldade desta criança de interagir com seus pares e até com seus familiares e de um brincar empobrecido, seguido por movimentos repetitivos que parecem sem sentido.
Dessa maneira, como podemos trabalhar com as crianças autistas na clínica? Como seria esse percurso de trabalho?
Uma das estratégias usadas pela psicanálise é a aposta no brincar compartilhado. Sabemos que o brincar da criança autista é um brincar sem o uso do imaginário e com o manuseio repetitivo de objetos aleatórios, porém a grande estratégia está na significação que podemos dar para esses objetos. Percebemos a importância daquele objeto para a criança autista, se ela o escolheu é porque ele faz alguma conexão com o seu estado atual. Podem ser objetos que ajudam a criança a se organizar e a se acalmar. Esses objetos podem ser usados para introduzir narrações e cenas para o brincar, devido à importância da função simbólica no entendimento do mundo.
É através desse brincar que a criança autista vai nos mostrar de que maneira podemos conduzir o trabalho, que caminhos podemos percorrer, quais os limites para que possamos ajudá-la a diminuir seus sofrimentos e lidar com suas dificuldades.
Tudo faz parte de um processo de investimento e construção do laço social entre o paciente e o terapeuta. A importância da aposta do terapeuta na criança e o respeito as suas singularidades e ao seu tempo, são importantes ferramentas para ela encontrar seu dizer próprio, mesmo que não seja através da fala articulada.
Enfim, a construção do brincar compartilhado, que pode evoluir para o prazer compartilhado na experiência lúdica, é um importante diferencial da psicanálise no atendimento destes pequenos pacientes.